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A História da Pequena Semente
"Os que lançam sementes entre lágrimas ceifarão com alegria”
(Sl 125)
Madre Margarida Hertel
Pe. Wofgang Czernin
Madre Dolores Souto Maior
Madre Myriam de Castro
A Crônica do Mosteiro de São João, em Campos do Jordão, escrita pela Revda. Madre Margarida Hertel, sob o título “A História da Pequena Semente” tem início em 27 de maio de 1964 e registra em português e alemão os momentos mais relevantes da história da fundação.
Historicamente, Madre Margarida ao longo de sua vida demonstrou sempre o dom de unir as irmãs, tornando a comunidade sob sua orientação, forte no espírito fraterno.
Madre Margarida nasceu a 24 de fevereiro de 1903 em Estrasburgo, Alemanha, e recebeu no batismo o nome de Gertrud Franziska Felicitas. Passou, porém, sua infância e parte da juventude em Würzburg na Alemanha. Seus estudos foram feitos na Abadia de Frauenchiemsee onde ingressou como postulante, após terminar o curso de Farmácia.
No noviciado recebeu como padroeira Santa Margarida Maria de Alacoque e em 8 de setembro de 1932 pronunciou seus primeiros votos, recebendo três anos mais tarde a Consagração das Virgens.
Em 1936 foi enviada a Dinamarca com duas monjas de seu mosteiro para implantar a Regra Beneditina, no único mosteiro de contemplativas daquele país (Mosteiro de Den Evige Tilbedelses Kirke). Lá, Madre Margarida foi eleita Prioresa por unanimidade e para a surpresa da população local, de maioria luterana, conseguiu atrair inúmeras vocações.
Em 1947 Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, bispo diocesano de Uberaba manifestou o desejo de ter em sua diocese um mosteiro beneditino. A Providência Divina trouxe Madre Margarida para o Brasil com seis monjas e duas candidatas dinamarquesas, acompanhadas por D. Wofgang Czernin, do Mosteiro de Beuron. Assim, em 1948, esta semente lançada na Dinamarca chegou ao solo brasileiro para morrer e renascer, ser podada até a raiz e tornar-se urna árvore frondosa.
No dia 8 de setembro daquele mesmo ano o Louvor Divino foi iniciado solenemente na pequena capela da fundação cuja padroeira era Nossa Senhora da Glória.
Em 1964, Madre Margarida juntamente com 17 monjas fundou o Mosteiro de São João, na cidade de Campos do Jordão. O Mosteiro de São João nasceu da fidelidade e generosidade do coração de Madre Margarida Hertel guiada unicamente por esta certeza interior de que em todos os momentos e em todas as horas "era o Senhor que vinha", que se fazia presente.
Assim, as irmãs começaram a nova vida numa casa perto da Igreja Nossa Senhora da Saúde. Esta casa atualmente abriga o Museu de Xilogravura. Era um casa pequena, a qual tiveram que pintar, colocar janelas. No início sofreram muitas privações e frio, mas a fé não as deixava esmorecer.
Para sobreviver, algumas irmãs davam aulas de línguas e outras dedicavam-se aos trabalhos artísticos. Nas palavras da Madre:
“Vamos continuar com amor e força a confiar na Providência Divina, em São José em Nossa Senhora do Sagrado Coração – esperança dos desesperados, em São João Batista e no Papa João XXIII. Todos os santos, almas e anjos intercedam por nós.”
A necessidade de ter uma casa maior era também incluída nas suas preces.
Na história do Mosteiro de São João, a presença dos amigos sempre significou um apoio inestimável para que a semente germinasse. E todos são mencionados com alegria.
Encontraram finalmente uma chácara, onde hoje se localiza o Mosteiro e ficaram encantadas com a linda propriedade, cujo preço ultrapassava o seu poder aquisitivo, além do fato de que tal compra dependia de licença dos superiores.
Toda a questão relacionada à aquisição da chácara é registrada em alemão e em alguns momentos com símbolos de estenografia, como se Madre Margarida guardasse para si a angústia de ver solucionado o negócio da forma mais harmoniosa possível.
No ano de 1966, ano pródigo em visitas e muito trabalho, a questão avançou. Uma senhora sueca, irmã de uma das fundadoras, Tilly, ajudou financeiramente. A compra foi definitivamente fechada em 14 de abril de 1967.
No dia 17 de maio de 1968, as irmãs se mudaram, maravilhadas com a ajuda de Deus.
As vocações começam a chegar em 9 de junho de 1972.
Em 28 de outubro de 1973, o Mosteiro de São João é declarado priorado independente com noviciado próprio. Madre Margarida é eleita prioresa. O número de vocações aumenta consideravelmente.
Em 21 de junho de 1977 morre Madre Margarida Hertel deixando atrás de si três fundações e muita saudade.
Segundo o seu necrológico:
“Madre Margarida amava a vida e sofria por ver separar-se de suas filhas, mas ao mesmo tempo tinha sede de ser consumida pelo amor misericordioso do Pai e desejava ardorosamente a vida eterna. Agora na pátria celeste, continuará seu canto de louvor e intercessão na visão face a face do Cordeiro Imaculado, ao qual sejam dadas toda a honra e glória pelos séculos dos séculos.”
Da obra que Deus realizou em sua vida, alguém constatou: Me. Margarida foi uma “árvore” de Deus pois a liberdade da semente está em se tornar árvore; não realizar isso é sua prisão.
A árvore cresce dá flores e frutos, chega o inverno e ela é desnudada, todas as suas folhas caem. Olha para si e vê que só restam o tronco e os galhos: “todas as folhas de minha árvore caíram!... O que me restou?' - A experiência da morte! Chega a primavera, o que acontece? - A experiência da Ressurreição!
Em julho de 1977 durante a Visita Canônica presidida pelo Revmo. Abade Presidente D. Basílio Penido, OSB, a Revda. Me. Dolores foi nomeada Prioresa para substituir Me. Margarida no governo do Mosteiro de São João.
Em 1981 durante a Visita Canônica julgaram os visitadores ter chegado o momento de dar-se os passos necessários para transformação do Priorado Conventual em Abadia o que de fato ocorreu.
Assim aos 27 dias de setembro de 1981 o Mosteiro São João pôde festivamente celebrar a Solenidade da Bênção Abacial da Revda. Me. Dolores Souto Maior a qual foi presidida pelo Revmo. D. Eusébio Oscar Sheid. Escolheu como lema: “ECCE ANCILLA DOMINI” (“Eis a serva do Senhor” (Lc 1, 38)).
Por vinte e três anos Me. Dolores "fez-se tudo para todos a fim de salvar a todos" (1Cor 9, 19), numa doação total de amor, generosidade e compreensão para todas e cada uma em particular. Seguindo as pegadas de Nosso Pai São Bento, no exemplo vivo de Me. Margarida buscou a unidade, a paz e a alegria para a comunidade, tendo como único ideal a glória de Deus.
Após sua renúncia, no dia 14 de maio de 2001, sob a presidência de D. Abade Joaquim de Arruda Zamith foi eleita a Segunda Abadessa de nosso Mosteiro, Me. Myriam de Castro.
A Bênção Abacial foi presidida pelo Bispo Diocesano de Taubaté Revmo. Dom Carmo João Rhoden no dia 1º de julho de 2001.
E o Mosteiro de São João continua crescendo em vida fraterna, alegria, e tornando-se um foco de irradiação da vida cristã e monástica para todos que o visitam e mais além.
Em 2005, o Mosteiro Vor Frue Kloster, situado na Dinamarca, de onde partiram as fundadoras do Mosteiro Nossa Senhora da Glória, tinha somente cinco irmãs idosas e doentes. Necessitavam, pois, de ajuda para que o único mosteiro beneditino naquele país continuasse aberto. Assim teve início a missão que a comunidade do Mosteiro de São João assumiu de resgatar a história e manter viva a vida monástica beneditina naquele longínquo país.
Mosteiro na Dinamarca